quarta-feira, 16 de abril de 2025

Carnaval em Carajás!

Eu e meu companheiro de natureza e de vida, Ubirajara (Bira), há tempos desejávamos conhecer a Floresta Nacional de Carajás, famosa pelo avistamento de onça-pintada e pelo seu estado de preservação. Aproveitamos o feriado de Carnaval para unir esse desejo à busca por um destino mais tranquilo e escolhemos o município de Parauapebas, PA, uma das cidades que abrange a área da Flona de Carajás.

Fomos de avião, e a chegada já foi impactante: aterrissamos em meio à floresta. O aeroporto e a área de exploração mineral da Vale estão dentro da Flona. Em nossas viagens, sempre buscamos hospedagens que nos aproximem da natureza, e nesta escolhemos o Carajás Hotel, que tem uma ampla varanda na área da piscina e do café da manhã, ambas com vista para a floresta às margens do rio Parauapebas. Isso aumentava bastante nossas chances de avistar animais, especialmente aves.

Assim que chegamos ao hotel e nos livramos do peso das bagagens, fomos dar uma espiada na varanda. A vista era linda, e fomos recepcionados pelo canto insistente da choca-d’água. A princípio, pensei que fosse um surucuá, pois o canto me pareceu semelhante. Nesse dia, a choca não quis aparecer, só nos deu o privilégio de vê-la em outro dia da viagem.


A vista da floresta da varanda do Carajás Hotel.


A vista da floresta da varanda do Carajás Hotel.


Detalhe da floresta da varanda do Carajás Hotel.


Choca-d’água na varanda do Carajás Hotel.

No dia seguinte, acordamos cedo e fomos animados para o café, na expectativa de ver o anambé-azul. Uma das funcionárias do hotel havia nos contado que ele costumava aparecer por ali. Infelizmente, não tivemos essa sorte. No entanto, ainda durante a manhã, Bira — que apelidei de "visão além do alcance" — avistou uma harpia, o gavião-real, a maior ave de rapina do Brasil. No momento, eu estava no quarto quando ele entrou eufórico, gritando da porta: "Harpia, harpia!". Meu primeiro pensamento foi: "Não acredito! Harpia? Mas se o Bira falou, é porque é verdade!". Desci apressada para a varanda e lá estava ela, majestosa, pousada em um galho frondoso do outro lado do rio Parauapebas. Que sorte a nossa!


Harpia avistada da varanda do Carajás Hotel.

Durante nossa estadia no hotel, avistamos muitas outras aves: araçari-de-bico-riscado, araçari-de-bico-branco, tucano-do-bico-preto, tucano-cachorrinho, tiriba-de-hellmayr, araracanga, arara-vermelha, saíra-de-bando, cardeal-da-amazônia, papagaio-verdadeiro e beija-flor-de-bochecha-azul, entre outros. A varanda do hotel proporciona uma visão privilegiada, pois as aves pousam nas copas das árvores na altura da varanda e se alimentam das frutas e flores das árvores próximas, como pés de açaí e embaúba.


Araçari-de-bico-riscado na varanda do Carajás Hotel.


Araçari-de-bico-branco na varanda do Carajás Hotel.


Tiriba-de-hellmayr na varanda do Carajás Hotel.


Araracanga na varanda do Carajás Hotel.


Arara-vermelha na varanda do Carajás Hotel.


Saíra-de-bando na varanda do Carajás Hotel.


Cardeal-da-amazônia na varanda do Carajás Hotel.

Fizemos dois passeios na Flona de Carajás, mas não com foco exclusivo na observação de aves. No primeiro, um passeio privado com a guia Priscila, percorremos as trilhas Castanheiras e Quarubarana. No início da trilha, chovia um pouco. Vimos e ouvimos diversas aves, mas não conseguimos fotografá-las. O canto do cricrió sempre marcando a trilha sonora da floresta. Durante o percurso, um animal grande e de pelo claro se assustou conosco e correu mata adentro. Suspeitamos que fosse uma onça-parda. Mais à frente, encontramos fezes de onça, reforçando nossa suspeita.


Fungo na trilha Castanheiras, Flona de Carajás.


Caramujo na trilha Castanheiras, Flona de Carajás.

No segundo passeio, chamado Rota Carajás, fomos em grupo com os guias Miguel Ângelo e Wester Tales. Neste dia, fotografei a maitaca-de-cabeça-azul na trilha da Lagoa da Mata, um local interessante para a observação de aves, onde avistamos um tamanduá-mirim que se alimentava e movimentava calmamente. Também visitamos o Mirante do Rio Azul, com uma bela vista da floresta. Essa área faz limite com uma região de canga, um campo rupestre ferruginoso. A canga é um ecossistema único e rico em biodiversidade e foi ali que conhecemos a flor de Carajás, Ipomoea cavalcantei, espécie-símbolo da cidade de Parauapebas. Essa espécie é endêmica da região e já perdeu grande parte de seu habitat para a mineração. A Vale realiza a exploração do minério de ferro nesse tipo de ambiente. E por último conhecemos a bela cachoeira de Águas Claras localizada no Parque Nacional dos Campos Ferruginosos.


Maitaca-de-cabeça-azul na trilha da Lagoa da Mata, Flona de Carajás.


Tamanduá-mirim na Lagoa da Mata, Flona de Carajás.


Flor de Carajás, Ipomoea cavalcantei, ocorre nos campos ferruginosos e é a espécie-símbolo da cidade de Parauapebas.


Cachoeira de Águas Claras localizada no Parque Nacional dos Campos Ferruginosos.

Para visitar a Flona, é obrigatório contratar um guia credenciado pelo ICMBio. A lista de guias pode ser encontrada na Cooperativa de Ecoturismo de Carajás (Cooperture Carajás), disponível no link:

https://parauapebas.pa.gov.br/wp-content/uploads/2024/05/Lista-de-Condutores-2023-5-1_compressed.pdf

Também visitamos o Parque Zoobotânico, onde todos os animais presentes ali ocorrem no bioma amazônico. O parque está localizado dentro da Flona de Carajás e possui uma extensa área verde, permitindo que diversos animais sejam observados soltos. Nessas condições, conseguimos ver um macaco-bugio-de-mão-ruiva, arara-vermelha e um cricrió bem de perto, cantando — uma cena rara na floresta, onde ouvimos a ave, mas é difícil encontrá-la em meio a vegetação. Além disso, um maguari circulava livremente pelo parque. O acesso ao parque Zoobotânico é gratuito e necessita apenas da retirada de uma autorização de acesso ao local na portaria da Flona de Carajás junto a instalação do ICMBio.


Cricrió livre na árvore dentro do Parque Zoobotânico.

Onça parda no Parque Zoobotânico, Flona de Carajás.


A experiência de conhecer a Floresta de Carajás foi bem legal e rica. Quando recebi o convite para compartilhar essa vivência no blog do Observaves, topei na hora. Minha intenção é incentivar mais pessoas a visitarem a floresta e fortalecer o turismo de natureza na região. Durante nossa estadia, notamos que, no hotel e na cidade, todos presumiam que estávamos ali a trabalho na mineração, e não pelo ecoturismo. Esse olhar precisa mudar, e espero que mais viajantes se aventurem por Carajás com os olhos voltados para a riqueza natural que ela tem a oferecer.



Eu e Bira na área dos campos ferruginosos. Foto: Milton Rosário.

Texto e fotos: Marina Dutra Miranda - Instragram @marinadutram

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